terça-feira, 23 de novembro de 2010

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"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."

(Clarice Lispector)

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

... ?

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"All the same," said the Scarecrow, "I shall ask for
brains instead of a heart; for a fool would not know what
to do with a heart if he had one."

"I shall take the heart," returned the Tin Woodman;
"for brains do not make one happy, and happiness is the
best thing in the world."

(The wonderful wizard of Oz - Baum)

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Sempre Alice.

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"You are sad." the Knight said in an anxious tone: "let me sing you a song to comfort you."

"Is it very long?" Alice asked, for she had heard a good deal of poetry that day.

"It's long." said the Knight, "but it's very, very beautiful. Everybody that hears me sing it - either it brings tears to their eyes, or else -"

"Or else what?" said Alice, for the Knight had made a sudden pause.

"Or else it doesn't, you know.(...)"

(Lewis Carroll - Through the looking glass)

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

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Apesar de tudo, decidiu recolocar o brinco. Nunca admitiria, mas grande parte da sua decisão era motivada por teimosia: ela sabia que ele a machucaria, como da outra vez, mas seu brilho a encantara. E se dessa vez fosse diferente?
Da primeira vez o encanto durou poucos dias, até que sua orelha começou a ficar vermelha, inchar e doer. Por mais que incomodasse, ela persistia, teimosa. Muitos foram os conselhos, mas, diante de um grande encanto, quem ouve a razão? Uma noite, em meio a um pesadelo, acordou em um pulo, e o brinco se soltou em seu travesseiro. Seu sono melhorou, seu sorriso era mais sincero e ela se sentia mais leve. Foi necessário algum tempo até sentisse falta, olhando no espelho, mas a sensação de alívio era maior.
Mas ela decidiu voltar...
Em pouco tempo, se via que sua orelha começava a ficar vermelha, materializando o que já tinha acontecido. E assim ela continuaria, nessa dor voluntária, cega pelo encanto, até que o acaso a fizesse perceber.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Por aí

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"– Não tem perigo que eu esteja lhe contando, disse-lhe gozando o fato dela não entendê-lo, porque estou contrariando o que sou, e ninguém pode denunciar o que os outros são, ninguém pode fazer sequer uso mental do que os outros são – Martin achou tanta graça em usar a palavra ‘mental’ que riu; era palavra estranha e vazia, e ele estava se caceteando um pouco. – Depois que eu acabar de falar, você me desconhecerá ainda mais: é sempre assim que acontece – quando a gente se revela, os outros começam a nos desconhecer”
(A maçã no escuro – Clarice Lispector)

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

...

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A bateria acabou na parte mais emocionante da música, como sempre. “Droga”, ela pensou. Ouvir música, nos vinte minutos que devia esperar até chegar a faculdade sempre era sua melhor fuga, e uma espécie de mágica que fazia seu tempo passar mais rápido e melhor. Desligar o aparelho significava voltar para realidade, encarar o...

Até que ela o percebeu. Era um perfume familiar, envolvente, que trazia memórias de momentos alegres, abraços, e a falta. Sem ver o resto de quem carregava o perfume, lembrou de outro rosto, quase perdido entre tantos outros. Não era amor – nunca tinha sido – mas sim respeito, crescimento, confiança e, no fundo, amizade. Mas aquele perfume a lembrou da vontade de tentar, pois não são apenas os bons relacionamentos que provocam mudanças.

domingo, 1 de agosto de 2010

Eterna procura

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No início, a surpresa; logo após, a decepção consigo mesma. Como poderia perder algo que lhe era tão caro? Não descansaria até reencontrá-la. O que seus pais, vizinhos, amigos diriam?
Sem mais se martirizar, decidiu começar a procurar embaixo da cama - afinal, quão longe uma estrela poderia ter ido?

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Fragmento

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- Talvez...

Ela sorriu. Sonhar com uma possibilidade é melhor que a áspera certeza do não... "Talvez".

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Noite

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O primeiro pensamento involuntário foi relacionado à segurança, pois ela sabia da onda de assaltos no bairro. O horário e o vazio das ruas eram fortes argumentos contra sua vontade – mas ela sabia que não resistiria, iria andar. Ela não queria confessar, mas fora seduzida (não como as paixões ardentes, que destroem a razão em poucos instantes, escravizam e passam, mas como o frio, que chega aos poucos e se demora). Fora seduzida pela noite, e não se sentiria bem longe da brisa que brincava no seu rosto, ou dos olhos sempre vigilantes das estrelas.
Para esquecer do medo, decidiu ligar uma música em seu fone de ouvido. Sem muito escolher, ligou uma música de seu cantor francês favorito, e começou a murmurar a letra, que já sabia de cor. Se a noite a seduzia, a sensação de ouvir aquelas palavras doces ao seu ouvido, acompanhadas de um violão ajudava a aumentar o encanto.
Ao se perceber sozinha, foi se sentindo mais a vontade, até começar a cantar como se falasse com alguém. Ao soltar a voz, seguiram-se os primeiros movimentos com braços e pernas, até que estava dançando, como se ninguém pudesse ver. Ela não sabia expressar seus sentimentos, até ouvir uma comparação na música – comme une hirondelle. Ela se sentia como uma andorinha – para ela, a verdadeira liberdade não estava em chegar onde quisesse, mas sim, em andar.
Sem perceber, deixou seus movimentos desengonçados revelarem seu segredo. Se alguém passasse naquele momento veria uma mulher bem vestida dançando, com pequenas asas se revelando, apesar da tentativa de escondê-las com uma jaqueta jeans. Quando chegasse em casa e o dia nascesse, voltaria a esconder seu segredo e seguiria com sua rotina - mas, sob a luz da lua, não tinha o que esconder. A noite era sua.
 

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